PsiquiatriaTranstornos

Síndrome de borderline

Perturbação borderline da personalidade (PBP) (português europeu) ou transtorno da personalidade borderline (TPB) (português brasileiro) é um padrão de comportamento anormal caracterizado por instabilidade nos relacionamentos interpessoais, instabilidade na imagem de si próprio e instabilidade emotiva. Em muitos casos observa-se comportamentos de risco e autolesão. A pessoa pode também debater-se com uma sensação de vazio e medo intenso de abandono emocional. Os sintomas podem ser espoletados por eventos aparentemente normais. O comportamento tem geralmente início no início da idade adulta e ocorre em diferentes contextos. Em muitos casos a condição está associada a outras perturbações, como abuso de substâncias, depressão e perturbações alimentares. Até 10% das pessoas afetadas morre por suicídio.

Embora as causas de PBP não sejam totalmente claras, aparentam envolver fatores genéticos, ambientais, sociais e ao nível do cérebro. A condição é cinco vezes mais comum em pessoas com um parente próximo também com a condição. A ocorrência de adversidades na vida pessoal aparenta ter influência. O mecanismo subjacente aparenta envolver a rede fotolímica de neurónios.O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM) classifica a PBP como perturbação da personalidade, a par de outras nove perturbações do mesmo tipo. O diagnóstico tem por base os sintomas, podendo ser realizados outros exames para descartar outras causas.A condição deve ser diferenciada de uma perturbação de identidade ou perturbação por uso de substâncias, entre outras possibilidades.

A condição é geralmente tratada com psicoterapia, sobretudo terapia comportamental. A terapia comportamental dialética pode diminuir o risco de suicídio. A terapia pode ser individual ou em grupo. Embora os medicamentos não curem a PBP, podem ser usados para aliviar os sintomas associados. Alguns casos requerem tratamento hospitalar. Até metade das pessoas melhora no prazo de dez anos.

A condição afeta 1,6% em dado ano. O diagnóstico da condição é três vezes mais comum entre mulheres do que entre homens, e aparenta ser menos comum entre pessoas mais idosas. A doença tem um elevado custo económico. Existe atualmente um debate sobre a nomenclatura da condição, em particular sobre o uso do termo “borderline”. A condição é muitas vezes estigmatizada tanto na comunicação social como na própria psiquiatria.

Sinais e Sintomas
Os sintomas mais característicos de TPB são uma marcante sensibilidade a rejeição, pensar sobre e sentir medo de um possível abandono. Acima de tudo, as características do TPB incluem uma sensibilidade especialmente intensa nas relações com outras pessoas, dificuldade em regular emoções e impulsividade. Outros sintomas podem incluir sentimentos de insegurança quanto a autoidentidade e valores pessoais, ter pensamentos paranoicos quando estressado e dissociação grave.

Emoções
Pessoas com TPB sentem emoções com mais facilidade, maior profundidade e por mais tempo que as outras. As emoções podem ressurgir repetidamente e persistir por longos períodos de tempo. Consequentemente, pode demorar mais do que o normal para uma pessoa com TPB voltar a um estado emocional estável após uma experiência emocional intensa.

Na opinião de Marsha Linehan, a sensibilidade, intensidade e duração com a qual as pessoas com TPB experimentam as emoções tem tanto aspectos positivos quanto negativos. Pessoas com TPB são excepcionalmente idealistas, alegres e amorosas. Entretanto elas podem se sentir sufocadas por emoções negativas, experimentando intenso luto em vez de tristeza, vergonha e humilhação em vez de leve constrangimento, ódio em vez de irritação e pânico em vez de nervosismo. Pessoas com TPB são especialmente sensíveis aos sentimentos de rejeição, isolamento e sensação de fracasso. Seus esforços para conter ou escapar de suas intensas emoções negativas podem levar a automutilação ou comportamento suicida antes que aprendam outras estratégias de enfrentamento. Em geral eles têm consciência da intensidade de suas emoções negativas e, uma vez que não são capazes de controlá-las, se desligam delas inteiramente. Isso pode ser danoso para as pessoas com TPB, já que emoções negativas nos alertam para a presença de situações problemáticas e estimulam seu enfrentamento.

Apesar de as pessoas com TPB sentirem intensa alegria, elas são especialmente suscetíveis a disforia, ou sofrimento mental e emocional. Zanari et al. reconhece quatro categorias de disforia que são típicas deste transtorno: emoções extremas; destrutividade ou autodestrutividade; sentimento de identidade fragmentada ou ausente; e sentimento de vitimização. Dentro destas categorias, um diagnóstico de TPB é fortemente associado com uma combinação de três estados específicos: 1) se sentir traído, 2) sentir vontade de se machucar e 3)se sentir fora de controle. Uma vez que há uma grande variedade nos tipos de disforia que as pessoas com TPB experimentam, a amplitude do sofrimento é um indicador auxiliar do transtorno de personalidade borderline.

Além das emoções intensas, pessoas com TPB experimentam instabilidade emocional. Embora a expressão possa sugerir uma rápida mudança entre depressão e exaltação, as oscilações de humor nas pessoas com esta condição na verdade ocorrem mais frequentemente entre a raiva e a ansiedade e entre depressão e ansiedade.

Comportamento
Comportamento impulsivo é comum, incluindo: abuso de substâncias e alcoolismo, transtorno alimentar, sexo de risco ou indiscriminado com múltiplos parceiros, gastar dinheiro e dirigir imprudentemente.

Comportamento impulsivo também pode incluir abandonar empregos e relacionamentos, fugir e se automutilar.

Pessoas com TPB agem impulsivamente pois isso lhes dá alívio imediato de sua dor emocional. Entretanto, a longo prazo, as pessoas com TPB sofrem de uma crescente vergonha e culpa que seguem esse tipo de ação. Normalmente um ciclo se inicia, no qual a pessoa com TPB sente dor emocional, se engajam em um comportamento impulsivo para aliviarem a dor, sentem vergonha e culpa por suas ações, sentem dor emocional por conta dos sentimentos de vergonha e culpa e então experimentam uma maior compulsão por se engajar em um comportamento impulsivo para aliviar a nova dor. Conforme o tempo passa, o comportamento impulsivo pode se tornar uma resposta automática diante a dor emocional.

Automutilação e suicídio
Automutilação e comportamento suicida são um dos critérios de diagnóstico centrais no DSM-IV. A gestão e recuperação destes comportamentos pode ser complexo e desafiador. A incidência de suicídios entre pessoas com TPB é entre 3% e 10% ao longo da vida. Há evidências de que homens diagnosticados com TPB tem aproximadamente o dobro de probabilidade de cometerem suicídio em relação as mulheres diagnosticadas com TPB Também há evidências que uma percentagem considerável de homens que cometem suicídio podem ter TPB não diagnosticada.

Automutilação é comum e pode ocorrer com ou sem intenção suicida. As razões apresentadas para a automutilação não suicida diferem das razões para tentativas de suicídio. As razões para a automutilação não suicida incluem expressar raiva, autopunição, voltar ao normal (geralmente em resposta a dissociação) e distrair-se da dor emocional ou de circunstâncias difíceis. Em contraste com isso, as tentativas de suicídio tipicamente refletem uma crença de que as vidas das outras pessoas vão melhorar depois do suicídio. Ambas automutilações, suicidas e não suicidas, são uma resposta ao sentirem emoções negativas.

Abuso sexual, em particular, pode ser um gatilho para comportamento suicida em adolescentes com TPB.

Relacionamentos interpessoais
Pessoas com TPB podem ser muito sensíveis ao modo como outros a tratam, sentindo intensa alegria e gratidão diante do que percebem como expressões de bondade, e intensa tristeza e raiva ao que entendem como uma crítica ou ofensa. Seus sentimentos a respeito dos outros normalmente alternam entre o positivo e o negativo após uma decepção, o que entendem como uma ameaça de se perder alguém ou de perder a estima que alguém importante tenha por eles. Este fenômeno, as vezes chamado de clivagem ou pensamento preto-e-branco, inclui a mudança entre idealização de outra pessoa (sentimento de amor e admiração) e desvalorização (sentimento de raiva ou antipatia). Combinado com os distúrbios do humor, idealização e desvalorização podem minar relacionamentos com a família, amigos e colegas de trabalho. A autoimagem também pode mudar rapidamente do positivo para o negativo.

Embora desejando fortemente a intimidade, as pessoas com TPB tendem a ser inseguras, esquivas ou ambivalentes, ou terrivelmente preocupadas com padrões de apego em relacionamentos e muitas vezes veem o mundo como perigoso e mau. O TPB está ligado ao aumento dos níveis de estresse crônico e aos conflitos nos relacionamentos amorosos, diminuição da satisfação dos parceiros românticos, abuso doméstico e gravidez indesejada. No entanto, estes fatores parecem estar ligados aos transtornos de personalidade em geral.

Manipulação psicológica para obter carinho é considerada uma característica comum de TPB por muitos que tratam o transtorno, bem como pelo DSM-IV. No entanto, alguns profissionais de saúde mental advertem que uma ênfase excessiva e uma definição muito ampla de manipulação pode levar a mal-entendidos e tratamento preconceituoso das pessoas com TPB dentro do sistema de saúde.

Autoimagem
As pessoas com TPB tendem a ter dificuldade em ver uma imagem clara de sua própria identidade. Em particular, eles tendem a ter dificuldade em saber o que valorizam e apreciam. São muitas vezes inseguros sobre suas metas de longo prazo quanto a relações e empregos. Essa dificuldade de saber quem eles são e o que eles valorizam pode levar as pessoas com TPB a experimentar uma sensação de “vazio” e “perda”.

Pensamentos
As intensas emoções, muitas vezes vividas por pessoas com TPB podem dificultar a elas ter controle sobre seu foco de atenção – elas têm dificuldade em se concentrar. Além disso, as pessoas com TPB podem tender a dissociar o que pode ser entendido como uma forma intensa de “viagem”, a pessoa fica perdida em seus próprios pensamentos como se houvesse se drogado. A dissociação ocorre frequentemente em resposta ao experimentar um acontecimento doloroso (ou experimentar algo que desencadeia a memória de um acontecimento doloroso). Ela consiste em a mente redirecionar automaticamente a atenção para longe do tal evento doloroso, supostamente para se proteger contra, enfrentar uma emoção intensa e seus comportamentos impulsivos indesejados que tal emoção poderiam desencadear. Embora o hábito de bloquear intensas emoções dolorosas da mente possa proporcionar um alívio temporário, também pode ter o efeito colateral indesejado de bloquear ou embotar a experiência de emoções comuns, reduzindo assim o acesso das pessoas com TPB às informações contidas nessas emoções que as ajudariam a guiar de modo eficaz a tomada de decisões na vida diária.  Às vezes, é possível para outra pessoa perceber quando alguém com TPB está dissociando, pois suas expressões faciais e vocais podem tornar-se vazias ou sem expressão, ou elas podem parecer distraídas, mas em outros momentos, a dissociação pode ser pouco perceptível.

Genética
A herdabilidade do TPB é estimada em 65%. Ou seja, 65% da variabilidade nos sintomas entre indivíduos diferentes com TPB pode ser explicada por diferenças genéticas. (Note que isso é diferente de dizer que 65% do TPB é “causado” por genes.) Estudos com gêmeos podem superestimar o efeito dos genes na variabilidade dos transtornos de personalidade devido a fatores complicadores como um ambiente familiar compartilhado.

Estudos com gêmeos, irmãos ou outros familiares indicam herdabilidade parcial para agressão impulsiva, mas estudos de genes relacionados a serotonina sugerem apenas modestas contribuições para o comportamento.

Famílias com gêmeos na Holanda participaram de um estudo em andamento feito por Trull e seus colegas, no qual 711 pares de irmãos e 561 pais foram examinados para identificar a localização dos traços genéticos que influenciam o desenvolvimento de TPB. Colaboradores da pesquisa descobriram que o material genético no cromossomo nove estava ligado com características do TPB. Estudos concluíram que 42% da variação no TPB é atribuível a influência genética e 58% era atribuível a influências ambientais.

Genes atualmente sob investigação incluem o polimorfismo de 7 repetições do receptor de dopamina D4 (DRD4), que foi relacionado ao apego desorganizado, apesar do efeito combinado do polimorfismo de 7 repetições e do genótipo 10/10 de transportador de dopamina (DAT) ter sido relacionado a anormalidades no controle inibitório, ambos características notadas no TPB.

Anomalias cerebrais
Alguns estudos de neuroimagem sobre TPB divulgaram descobertas de redução em regiões do cérebro envolvidas na regulação da resposta ao estresse e emoções, afetando o hipocampo, o cortex orbitofrontal e a amídala, entre outras áreas. Um número menor de estudos tem usado ressonância magnética espectroscópica para explorar mudanças nas concentrações de neurometabólitos em certas regiões cerebrais de pacientes com TPB, procurando especificamente por neurometabólitos como a N-acetilaspartato, creatina, compostos relacionados aos glutamatos e compostos contendo colina.

Hipocampo
O hipocampo tende a ser menor em pessoas com TPB, assim como em pessoas com Estresse pós-traumático. Entretanto, no TPB, ao contrário do Estresse pós-traumático, a amídala também tende a ser menor.

Amídala
As amídalas são menores e mais ativas em pessoas com TPB.  Amídalas com volume reduzido também foram encontradas em pessoas com Transtorno obsessivo compulsivo. Um estudo descobriu uma atividade incomum na amídala esquerda de pessoas com TPB quando eles experimentam ou veem sinais de emoções negativas. Uma vez que as amídalas são a principal estrutura envolvida na geração de emoções negativas, essa atividade incomumente forte pode explicar a intensidade e longevidade do medo, tristeza, raiva e vergonha experimentadas por pessoas com TPB, assim como suas elevadas sensibilidades diante de demonstrações destas emoções por outras pessoas.

Córtex pré-frontal
O córtex pré-frontal tende a ser menos ativo em pessoas com TPB, especialmente quando relembram de memórias de abandono.[50] Essa inatividade relativa ocorre no córtex anterior cingulado (áreas de Brodmann 24 e 32.  Dado o seu papel na regulação da excitação emocional, a relativa inatividade do córtex pré-frontal pode explicar a dificuldade que pessoas com TPB tem em regular suas emoções e respostas ao estress.

Eixo Hipotálamo-hipófise-suprarrenal
O eixo Hipotálamo-hipófise-suprarrenal (eixo HHS) regula a produção de cortisol, que é liberado em resposta ao estress. A produção de cortisol tende a ser elevada em pessoas com TPB, indicando um eixo HHS hiperativo nesses indivíduos.  Isso faz com que eles experimentem uma maior resposta biológica ao estress, o que pode explicar sua maior vulnerabilidade a irritabilidade.  Já que eventos traumáticos podem aumentar a produção de cortisol e atividade do eixo HHS, uma possibilidade é que a prevalência de atividade acima da média do eixo HHS em pessoas com TPB pode simplesmente ser um reflexo da prevalência acima da média de traumas de infância e de eventos de amadurecimento entre essas pessoas.  Outra possibilidade é que, por ter sua sensibilidade a eventos traumáticos e produção de cortisol aumentada, as pessoas com TPB estariam predispostas a experimentar eventos estressantes de suas infâncias e amadurecimento como traumáticos.

A produção aumentada de cortisol também está associada com um maior risco de comportamento suicida.

Fatores Neurobiológicos
Estrogênio
Diferenças individuais nos ciclos de estrogênio das mulheres pode estar associado a expressão de sintomas de TPB em pacientes do sexo feminino. Um estudo de 2003 descobriu que os sintomas de mulheres com TPB eram antecedidos por mudanças nos níveis de estrogênio ao longo de seus ciclos menstruais, um efeito que permaneceu significativo mesmo depois que o aumento geral de afetos negativos foram descontados dos resultados.

Sintomas experimentados devido às alterações dos níveis de estrogênio podem ser mal diagnosticados como TPB, como alterações de humor extremas e depressão. Como a endometriose é uma doença influenciada pelo estrogênio, TPM e Transtorno disfórico pré-menstrual graves são observados, estes são ambos físicos e psicológicos em suas naturezas. Transtornos do humor influenciados por hormônios, também chamados de depressão reprodutiva, são esperados que acabem somente com a menopausa ou após uma histerectomia. Episódios psicóticos tratados com estrogênio em mulheres com TPB mostraram significativa melhora porém não devem ser prescrevidos àquelas com endometriose, pois isso agrava suas condições endócrinas. Drogas estabilizadoras do humor, usadas no tratamento do transtorno bipolar, não ajudam pacientes com níveis de estrogênio alterados. Um diagnóstico correto entre transtorno endócrino ou psiquiátrico precisa ser feito. [carece de fontes]

Experiências adversas na infância
Há uma forte correlação entre abuso infantil, especialmente abuso sexual infantil e o desenvolvimento de TPB. Muitos indivíduos com TPB reportam um histórico de abuso e negligência quando crianças. Pacientes com TPB são significativamente mais propensos a reportarem abuso verbal, emocional, físico ou sexual por seus cuidadores de ambos os sexos. Eles também reportam uma alta incidência de incesto e perda de cuidadores na infância.

Indivíduos com TPB também são mais propensos a reportarem que os cuidadores de ambos os sexos negavam validação de seus pensamentos e sentimentos. Os pais também foram reportados por terem falhado em prover a proteção necessária e por terem negligenciado os cuidados físicos com suas crianças. Pais de ambos os sexos são comumente culpados de ausência emocional diante da criança e por tratar dos menores de maneira inconsistente.  Ademais, mulheres com TPB que reportam um histórico de negligência por parte de sua mães e, em geral, abuso por parte dos pais e parentes, são significativamente mais propensas a reportarem abuso por terceiros, aos quais não possuem qualquer grau de parentesco.

Já foi sugerido que crianças que passaram por maus-tratos crônicos e por dificuldades afetivas podem desenvolver o transtorno de personalidade borderline.

Entretanto, nenhum desses estudos apresentou evidências de que trauma infantil necessariamente causa ou contribui para causar TPB. Ao invés disso, ambos o trauma e o TPB podem ser causados por um terceiro fator. Por exemplo, pode acontecer de muitos pais que tendem a expor as crianças a experiências traumáticas o fazem parcialmente por conta de seus próprios transtornos de personalidade herdados, a predisposição genética para tanto pode ser passada para seus filhos, que desenvolvem TPB como resultado desta predisposição e de outros fatores, e não como resultado de um maltrato anterior.

Outros fatores que contribuem para o desenvolvimento
A intensidade e reatividade da afetividade negativa de uma pessoa, ou a tendência para sentir emoções negativas, é um indicador de sintomas de TPB mais forte do que o abuso sexual infantil. Essa descoberta, as diferenças em estruturas cerebrais (veja anomalias cerebrais) e o fato de alguns pacientes com TPB não reportarem uma história traumática, sugerem que o TPB é diferente do Estresse pós-traumático, que frequentemente o acompanha. Assim, pesquisadores cogitam outra causa para o desenvolvimento, além do trauma infantil.

Pesquisas mais recentes publicadas em janeiro de 2013, pelo Dr Anthony Ruocco da Universidade de Toronto, destacaram dois padrões de atividade cerebral que podem fundamentar a desregulação de emoções característica deste transtorno; lá foram descritas atividades aumentadas nos circuitos cerebrais responsáveis pela experiência de emoções negativas exacerbadas, combinado com a ativação reduzida dos circuitos cerebrais que normalmente regulam ou suprimem essas emoções negativas geradas. Essas duas redes neurais são vistas como estando em operação disfuncional na região frontolímbica mas as regiões específicas variam muito em cada indivíduo, o que demanda novas pesquisas utilizando a técnica da neuroimagem. Além disso, destoando de estudos anteriores, pessoas com TPB demonstraram menor ativação da amídala em situações de emocionalidade do que em grupos de controle. O Dr. John Krystal, editor do Biological Psychiatry, acrescentou que: “Esse novo estudo corrobora com a impressão de que pessoas com transtorno de personalidade borderline são ‘enganadas’ por seus cérebros para terem vidas emocionais tempestuosas, embora não necessariamente tenham que levar vidas infelizes e improdutivas,”

Escrevendo sobre tradição psicanalítica, Otto Kernberg argumenta que a falha da criança em alcançar o que ele chamou de clarificação psíquica de si e do outro poderia aumentar o risco de desenvolver transtorno de personalidade borderline.

A inabilidade da criança em tolerar a gratificação adiada aos 4 anos não predispõe desenvolvimento posterior de TPB.

Fatores mediadores e moderadores
Função executiva
Ao tempo em que uma alta sensibilidade à rejeição está associada a fortes sintomas de transtorno de personalidade borderline, a função executiva parece mediar a relação entre sensibilidade a rejeição e sintomas de TPB. Ou seja, um grupo de processos cognitivos que incluem planejamento, memória de trabalho, atenção e solução de problemas pode ser o mecanismo através do qual a sensibilidade à rejeição impacta os sintomas de TPB. Um estudo de 2008 descobriu que a relação entre sensibilidade à rejeição de uma pessoa e os sintomas de TPB eram mais fortes quando a função executiva era diminuída, e que a relação era mais fraca quando a função executiva era mais ativa. Isso sugere que uma função executiva elevada pode ajudar a proteger as pessoas com alta sensibilidade à rejeição contra os sintomas de TPB.

Um estudo de 2012 descobriu que problemas com a memória de trabalho podem contribuir para uma maior impulsividade em pessoas com TPB.

Ambiente familiar
O ambiente familiar intercede nos efeitos do abuso sexual infantil no desenvolvimento do TPB. Um ambiente familiar instável prevê o desenvolvimento do transtorno, enquanto uma família estável prevê um risco reduzido. Uma explicação possível é que o ambiente estável amortece seu desenvolvimento.

Autocomplexidade
Autocomplexidade, ou considerar ter em si muitas características distintas, parece moderar a relação entre a autodiscrepância Real-Ideal e o desenvolvimento de sintomas de TPB. Isto é, para indivíduos que acreditam que suas características não batem com as características que eles esperam alcançar, uma grande autocomplexidade reduz o impacto de sua autoimagem conflitante nos sintomas de TPB. Entretanto, a autocomplexidade não modera a relação entre a autodiscrepância Real-Devida e o desenvolvimento de sintomas de TPB. Ou seja para indivíduos que acreditam que suas características reais não batem com as características que eles já deveriam ter, uma alta autocomplexidade não reduziria o impacto de sua autoimagem conflitante nos sintomas de TPB. O papel protetor da autocomplexidade na autodiscrepância Real-Ideal mas não na discrepância Real-Devida, sugere que o impacto da autoimagem conflituosa ou instável no TPB depende de como o indivíduo se enxerga em termos de características que eles esperam adquirir ou em termos de características que eles já deveriam ter.

Supressão de pensamento
Um estudo de 2005 descobriu que supressão de pensamento, ou tentativas conscientes de se evitar pensar certos pensamentos, media a relação entre vulnerabilidade emocional e sintomas de TPB. Um estudo posterior descobriu que a relação entre vulnerabilidade emocional e os sintomas de TPB não são necessariamente mediados pela supressão de pensamento. Entretanto, este estudo encontrou que a supressão de pensamento mediava a relação entre um ambiente invalidador e os sintomas de TPB.

Diagnóstico
O diagnóstico de transtorno de personalidade borderline é baseado em uma avaliação psiquiátrica por um profissional de saúde mental qualificado. O melhor método é apresentar os critérios do transtorno ao paciente e perguntar se ele acha que as características os descrevem precisamente. Envolver ativamente os pacientes com TPB em determinar seu diagnóstico pode ajudar a aceitá-lo mais facilmente. Embora alguns médicos prefiram não dizer aos seus pacientes com TPB qual o seu diagnóstico, tanto por preocupação sobre o estigma relacionado a condição quanto porque TPB era tido como intratável, normalmente ajuda ao paciente com TPB saber seu diagnóstico. Isso os ajuda a saber que outros tiveram experiências semelhantes e podem recomendar tratamentos eficazes.

Em geral, a avaliação psicológica inclui perguntar ao paciente sobre o início e a gravidade dos sintomas, bem como sobre outras questões sobre como os sintomas impactam na qualidade de vida do paciente. Questões de particular importância são as ideações suicidas, experiências com automutilação e pensamentos sobre machucar os outros. O diagnóstico é baseado no relato do paciente sobre seus sintomas e nas observações do médico. Testes adicionais para TPB incluem um exame físico e testes de laboratório para eliminar outros gatilhos e sintomas possíveis, como problemas de tireoide e abuso de substâncias.

Moça interrompida em sua música, pintura a óleo de Jan Vermeer que inspira Susanna Kaysen, diagnosticada como portadora de personalidade borderline em seu livro “Garota, Interrompida”.

Manual Diagnóstico e Estatístico

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais edição cinco (DSM-5) removeu seu sistema de múltiplos eixos. Consequentemente, todos os transtornos, incluindo os transtornos de personalidade, são listados na seção II do manual. Uma pessoa deve preencher 5 dos 9 critérios para receber um diagnóstico de transtorno de personalidade borderline. O DSM-5 define os principais aspectos do TPB como um padrão inflexível de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetos, bem como comportamentos impulsivos sobressaltados.

Além disso, o DSM-5 propõe um critério alternativo de diagnóstico para Transtorno de Personalidade Borderline em sua sessão III, Esses critérios alternativos são baseados em pesquisas sobre características e incluem especificar ao menos quatro de sete traços mal adaptativos.

De acordo com Marsha Linehan, muitos profissionais de saúde mental acham desafiador diagnosticar TPB usando os critérios do DSM, uma vez que tais critérios descrevem uma ampla gama de comportamentos. Para enfrentar este problema, Linehan agrupou os sintomas de TPB em cinco áreas de desregulação principais: emoções, comportamento, relações interpessoais, autoimagem e pensamentos.

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